Crise da gasolina no país que tem a maior reserva de petróleo do mundo. Culpa dos EUA?

Falta de gasolina na Venezuela. Culpa dos EUA?


Recentemente se espalhou a noticia da chegada dos navios petroleiros provenientes do Irã à Venezuela, carregando gasolina, num ato de apoio ao governo do Maduro, elevando a tensão com os EUA. 

Caso não tenham lido à respeito do assunto, deixou abaixo noticia publicada em El Pais:

Uma dúvida que surge, com certeza, é: como é que um país que tem a maior reserva de petróleo do mundo, está tendo problemas de combustível?

Por outro lado, já surgem novamente as teorias e reclamações culpando o governo americano da crise na Venezuela. 

Em entrevista ao programa Día a Día, do jornalista César Miguel Rondón, o especialista financeiro, Luis Oliveros, explica que a falta de gasolina que os venezuelanos estão enfrentando no meio da quarentena se deve ao colapso da indústria nacional de petróleo. "Algo que começou muito antes das sanções de Donald Trump".

Expliquei um pouco esta situação num dos meus primeiros posts, sobre o petróleo (deixo o link na sequência). Tem inclusive um gráfico mostrando a queda da produção petroleira e explico os motivos da redução da capacidade produtiva. 


Oliveros destacou que, embora seja verdade que essas multas na América do Norte causaram problemas à PDVSA (Companhia Estatal de Petróleo da Venezuela), é impossível afirmar que esse é o principal motivo da escassez de gasolina no país.

"A Venezuela tem uma perda de mais de 2 milhões de barris de produção", disse ele, observando que quando Nicolás Maduro se tornou presidente, o país era auto-suficiente e a indústria petrolífera produzia 2.800.000 barris de petróleo por dia.

Aqui saliento que inclusive na época do Chávez, a industria era auto-suficiente, e foi ele quem começou com a destruição da industria petrolífera. 

Apesar do fato do enfraquecimento do setor não ser novo, disse o especialista, a Venezuela costumava comprar gasolina de outros países no exterior e isso evitava um cenário de escassez. No entanto, essas operações estavam diminuindo quando a crise financeira começou a piorar no país.

“As sanções claramente não são as culpadas pelo problema. São as políticas econômicas equivocadas dos dois governos anteriores (Hugo Chávez e Nicolás Maduro) que levaram os venezuelanos a essa situação ", disse Oliveros.

Da mesma forma, o economista enfatizou que o subsídio da gasolina que existe no país também não é o gatilho para a queda da PDVSA. "É um, mas não é o principal", disse ele. (Isto faz referência a um comentário muito comum que escuto aqui no Brasil: "lá a gasolina é mais barata do que a água").

O petróleo iraniano servirá para solucionar a escassez de gasolina?

Luis Oliveros considerou que, embora os cinco navios iranianos cheios de combustível cheguem à Venezuela nas próximas semanas, isso seria suficiente para garantir o consumo de cerca de 40 dias no país sul-americano. Isso, levando em conta que o coronavírus minimizou a mobilidade dos cidadãos.

Em contraste, ele alertou que 1.500.000 barris - que é a quantidade estimada de combustível transportada pelos cinco navios - durariam apenas 10 dias em condições normais.

"Acho que o governo está ganhando tempo para tentar levantar as refinarias", disse o economista; ao mesmo tempo em que considerava que, além das posições políticas, isso seria algo benéfico para o país.

De qualquer forma, Oliveros mencionou que a situação da gasolina provavelmente será complicada para a Venezuela nos próximos dias e acrescentou que a escassez provavelmente será mais comum do que o fornecimento regular.

O texto acima é a minha tradução do artigo publicado no portal America Digital (link abaixo), porém queria ressaltar algumas outras considerações da entrevista:


- O fato do Maduro ter celebrado a chegada dos navios carregados de gasolina, no mínimo é ridículo num país petroleiro. O jornalista Cesar Miguel Rondón citou inclusive uma postagem no twitter do Fernando Mires (imagem abaixo) onde ele indica: "O Maduro comemora o envio da gasolina à Venezuela. É como se os esquimós comemorassem a importação de cubinhos de gelo desde outros países"


- Outro ponto importante é que o governo venezuelano, como sempre, utiliza as necessidades do povo como forma de chantagem. O Diosdado Cabello (numero 2 do chavismo e um dos principais líderes acusados de narco-terrorismo junto com o Maduro) declarou que esta gasolina importada do Irã, "não era apta para esquálidos" (forma em que eles chamam os opositores ao governo). Seguindo as práticas comuns, ela será racionada e dividida só entre os apoiadores do chavismo. 

- Por outro lado, é interessante considerar que o governo iraniano também é alvo de sanções do governo americano, porém, não tem problemas com o combustível, o que reforça o argumento explicado acima sobre as reais causas do problema na Venezuela.

Conclusão:

Para alguns não deve parecer muito grave a falta de gasolina ou um possível racionamento da mesma, porém, estamos falando de um país com um serviço de transporte público extremamente deficiente, situação que se mistura com as medidas de isolamento social.

É evidente que, no meio da crise do coronavirus, a Venezuela é o país que está na situação mais vulnerável na região, considerando que além do problema geral que todos os países do mundo enfrentam, tem um sistema de saúde nas piores condições, problemas sérios de empobrecimento da população, continua tendo apagões, um serviço de internet péssimo... em fim, uma catástrofe!

Para completar a situação, recentemente foi retirada do país a sinal de DirecTV, o serviço de televisão a cabo mais importante do país, o que piora ainda mais as condições para as pessoas ficarem em casa. 

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