Por qué você saiu da Venezuela??

Parece óbvio mas já me fizeram essa pergunta muitas vezes...

Então vou contar para vocês como era a situação antes, quando eu morava na Venezuela (sai em 2015) e quais foram os motivos para tomar a decisão de deixar o meu país. 

Vamos lá: eu vivia na Venezuela uma vida bastante boa: tinha um bom emprego, numa empresa multinacional (sou Engenheira, falo espanhol, inglês e português) e o meu marido também. Tínhamos um apartamento próprio, cada um tinha o seu carro (lembrando que a gasolina lá era de graça, então não era um problema no orçamento), morávamos perto da praia (1 hr de carro)... e não qualquer praia! as praias da Venezuela estão no Mar do Caribe, então são todas maravilhosas como podem ver na foto abaixo. As águas são quentinhas, clarinhas... uma delícia!. 

(Até aqui vocês podem pensar.. e então por que esta doida decidiu sair da Venezuela?)

Praias da Venezuela - Cayo Playuelita



Já na época em que morávamos lá, a situação da Venezuela era muito difícil (não tanto quanto a situação atual, obviamente, mas só víamos as coisas piorar com o passar do tempo). 

A gente saiu em janeiro de 2015, e muito antes disso já tínhamos que fazer estoque de alimentos e produtos básicos porque não era fácil de achar nos supermercados. Tínhamos racionamento diário de água no condomínio em que morávamos (passamos anos tendo água só 1 hora de manhã, 1 hora ao meio-dia e 1 hora à noite) e frequentemente tínhamos que aguentar racionamento elétrico também.

A insegurança era muito forte: eu já preferia não sair sozinha para lugar nenhum, só ia da casa ao escritório. O meu carro era um carro popular, nada de luxo, mas mesmo assim chamava a atenção, então todos os vidros tinham insulfilme preto, inclusive o dianteiro (lá não é proibido). 

Era muito comum ter assaltos no trânsito, para levar o celular ou o carro, podiam te seguir do trabalho para a casa. Nem nos shoppings a gente estava tranquila, era muito comum ter assaltos nos estacionamentos. 

Uma simples saída para comer num restaurante à noite, podia representar um risco. Muitos restaurantes ao ar livre (independentemente de estarem em regiões boas) tinham que fechar cedo para evitar assaltos. A gente só ia em lugares fechados e tomando sempre muito cuidado. 

Era considerado uma loucura pegar uma estrada à noite, porque era praticamente uma "certeza" que você seria assaltado, ou morto, como no caso abaixo (uma ex miss Venezuela que foi morta num assalto junto com o marido por terem ficado com o carro acidentado na estrada).


Eu sei que muitos brasileiros sentem que o Brasil é um país muito perigoso e que também correm-se muitos riscos, e não é que estejamos livres da delinquência, porém, a violência na Venezuela infelizmente é muito grave, como podem ver na infografia abaixo com dados do Informe Anual de Violência, do Observatório Venezuelano da Violência.

Fonte: Informe Anual de Violência do Observatório Venezuelano de Violência



Existe um ranking realizado anualmente pelo Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal do México, o qual mostra Caracas, capital da Venezuela como a terceira cidade mais perigosa do mundo, com uma taxa de 99,90 (a primeira é Tijuana, no México, com uma taxa de 138,26).


Só como base de comparação, Infobae relata também, com base no estudo do Observatório Venezuelano de Violência, que considerando as taxas por cada 100 mil habitantes, a Venezuela é o país mais violento de América Latina, com uma taxa de 60,3 mortes violentas, enquanto outros países como o Salvador, tem uma taxa de 48, Jamaica 47, Brasil 40, Colômbia 25 e México 22. 


Em fim, concluindo, sentíamos que não levávamos uma vida normal e, depois de muitas análises, eu e o meu marido, decidimos sair da Venezuela. 

Uma vez ouvimos de um professor de economia da pós, que iniciamos e tivemos que deixar sem terminar, que os países não tinham fundo, e que sempre podiam piorar. Esta frase marcou a nossa vida e comprovamos na pele que era certo. Quando deixamos o país pensamos que a situação estava muito ruim, porém, só tem piorado com o tempo, chegando a níveis que nunca imaginamos que poderiam ser atingidos. 

E por que viemos ao Brasil? Estudamos várias opções no mundo e o nosso plano sempre considerou uma migração organizada, onde pelo menos um de nós estivesse empregado. Acabamos decidindo por aceitar uma oferta de trabalho que recebi da empresa em que eu trabalhava e viemos morar em Minas Gerais!

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