Agora com a crise do Coronavirus, esta teoria volta a tona devido à vulnerabilidade do nosso país frente à pandemia.
Mas será que realmente a crise na Venezuela é responsabilidade dos Estados Unidos?
Vamos entender um pouco a cronologia:
Vamos entender um pouco a cronologia:
2015: Ainda no Governo do Presidente Obama, a Venezuela foi declarada uma "ameaça extraordinária para a segurança nacional e para a política exterior dos EUA", também iniciaram as sanções contra funcionários, começando com sete oficiais e altos funcionários do governo da Venezuela, proibindo-lhes a entrada aos EUA e fazer qualquer tipo de negocio com cidadãos americanos (1) (2)
2016: O Maduro pediu ao Obama o levantamento das sanções, porém o pedido não foi aceito e as sanções foram prolongadas por mais um ano, considerando que a perseguição de líderes opositores continuou e da mesma forma, as limitações à liberdade de expressão, violência e violação aos direitos humanos, durante as protestas contra o governo (1).
2017: Endurecimento das sanções dos EUA, já no Governo do Presidente Trump, restringindo as operações financeiras de venda de títulos do tesouro venezuelano no mercado financeiro americano. Adicionalmente, foi ampliada a lista de funcionários impactados pelas sanções, incluindo ao mesmo Maduro (3). Estas sanções não impactavam a compra de petróleo cru por parte dos EUA.
Aqui cabem 2 perguntas:
- Por que estes funcionários "anti-imperialistas" teriam bens ou ativos nos EUA? e
- Por que se o Governo do Chávez/Maduro era "anti-imperialista" vendia petróleo aos EUA?
Também neste ano, a União Europeia decidiu aplicar sanções aos funcionários venezuelanos do Governo do Nicolás Maduro, incluindo proibição de venda ao governo venezuelano, de armas e equipamentos que pudessem ser utilizados para a repressão interna e vigilância das comunicações eletrônicas (4), numa ação inédita (nenhum outro país tinha recebido sanções da UE).
Adicionalmente, o Vice-presidente da Venezuela nesse momento, Tarek El Aissami, foi acusado pelos EUA de estar envolvido no tráfico de cocaína e atividades de terrorismo (5) (6).
2018: O Governo do Trump reforçou as sanções anteriormente impostas, restringindo a comercialização de títulos de dívida da Venezuela no mercado americano (7). Continuou a ampliação da lista de funcionários sancionados, incluindo à primeira dama, Cilia Flores (8)
Dado adicional: Os sobrinhos da primeira dama foram pegos no Haiti, com um carregamento de cocaína no ano de 2015 e declarados culpáveis em dezembro de 2017, condenados a 18 anos de prisão (9).
2019: O endurecimento das sanções em 2019 envolveu o congelamento dos bens e ativos do regime venezuelano e de qualquer individuo que prestasse assistência aos funcionários afetados pela ordem, ou seja, bloqueio dos negócios com o Governo Venezuelano, deixando como exceção os bens destinados à qualquer ajuda humanitária ao país (10).
Para Junho de 2020, a lista de sancionados pelo governo americano envolve 98 venezuelanos ligados ao Regime do Maduro, onde além dele e a sua esposa, se encontram o seu filho, Nicolás Maduro Guerra; a Vice-presidenta Executiva Delcy Rodriguez; o Diosdado Cabello (Presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela); 8 juizes federais, altos funcionários militares e da polícia nacional, alguns governadores, o Diretor do Banco Central e o Ministro do Exterior (11).
Se quiser entender um pouco sobre as violações aos direitos humanos, corrupção e outros crimes que são citados nas sanções:
- Violação aos direitos humanos:
No vídeo abaixo, podem ver uma compilação do Human Rights Watch, mostrando a severa repressão sofrida durante os protestos na Venezuela. A maioria dos vídeos que existem da repressão policial e militar na Venezuela foram gravados por pessoas comuns e circulavam na época pelas redes sociais e logo eram confirmados por jornalistas ou meios internacionais. Há muito tempo que esta é a única forma de nos informar do que acontece no país, devido à forte pressão do Governo aos meios de comunicação locais.
Ampliando mais esta questão da repressão, foi publicado em 2019, um informe da Alta Comissionada dos Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, que antigamente, na sua função como Presidenta do Chile, era parceira do governo do Chávez/Maduro. No aterrador documento, Bachelet cita uma cifra de "7.000 assassinados no último ano e meio, cometidos pelas forças de Seguridade do Governo do Nicolás Maduro". Informa adicionalmente que "entre janeiro e maio desse ano, tinham se produzido 1.569 assassinatos, segundo estatísticas do próprio Governo Venezuelano" (12).
Recentemente a senhora Bachelet fez uma nova atualização do informe, onde salienta que os venezuelanos "continuam padecendo graves violações aos seus direitos econômicos e sociais". A Alta comissionada ainda expressou preocupação pelo "padrão de detenções arbitrárias, violações às garantias do devido processo, assim como alegações de tortura e desaparições forçadas nos primeiros dias da detenção" (21).
- Corrupção:
No meu post anterior sobre o petróleo (link abaixo), tem algumas referências às estimativas do total em dinheiro que foi malversado no país. Ex funcionários do Governo asseguram que as cifras giram em torno dos 300 bilhões de dólares (para entender a magnitude deste número: o PIB do Chile, segundo o FMI, em 2019, foi de 294 bilhões de dólares) (13).
O Governo americano reporta que os bens que tem sido apreendidos aos funcionários venezuelanos totalizam 450 milhões de dólares (14).
- Narcotráfico e Terrorismo:
Conforme citado acima, há algum tempo o governo americano vem sinalizando envolvimento de funcionários do Governo Venezuelano em atividades de narco-terrorismo.
Recentemente, em março de 2020, o Maduro junto com o Diosdado Cabello, entre outros funcionários, foram indiciados oficialmente como lideres de uma “conspiração de narco-terrorismo” e por tráfico de cocaína (15)(16) oferecendo uma recompensa de até 15 milhões de dólares por informações que levem à sua captura. Imagem da Ordem de Recompensa abaixo (17).
Em conclusão:
Conforme relatado no meu post do petróleo (link abaixo), a economia da Venezuela vem caindo vertiginosamente devido à implementação de políticas inadequadas que impactaram o funcionamento do mercado interno e foram destruindo a produção do país.
Falando em exemplos:
- em 2016, o PIB da Venezuela teve uma contração de mais de 15% (18),
- em 2017, antes de que as sanções impactassem a comercialização de petróleo cru, a produção petroleira já tinha experimentado uma queda de mais de 1000 MBD (miles de barris diários).
- em 2014, o BCV (Banco Central de Venezuela) já declarava 25,3% de escassez. A partir desse ano, o governo parou de informar esses dados (19).
- em 2016, a consultora Ecoanalítica informava que a escassez era de mais de 35% (19).
- para 2017, uma Pesquisa sobre as condições de vida dos venezuelanos, realizada por várias faculdades do país (UCAB, USB e UCV) reportavam um 61,2% de pobreza extrema e 87% de pobreza. Neste estudo, baseado numa amostra de 6.168 lares, foi identificado que 8.130.000 (aprox 30% dos venezuelanos) comiam duas ou menos vezes por dia. O café da manhã, era a comida que mais era sacrificada nos lares, onde el 61,2% dos entrevistados assegurava ir para a cama com fome (20).
Como podem ver, a situação da Venezuela já era muito crítica antes das sanções e, adicionalmente, estas medidas excluem itens de primeira necessidade como alimentos, medicamentos, insumos médicos, peças de reposição e componentes para produtos sanitários.
É necessário entender o cenário completo da crise na Venezuela, não só uma parcela, para não sair repetindo discursos sem fundamentos. A crise Venezuelana tem um único responsável: O Governo Criminoso da Venezuela!!
Fontes:
(9) https://cnnespanol.cnn.com/2017/12/14/sobrinos-maduro-cilia-flores-carcel/
(19) https://historico.prodavinci.com/blogs/el-indice-de-escasez-en-venezuela-llego-a-35-economiaengraficos/
Outros:
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