Black Lives Matters

Sobre o racismo na Venezuela

Quando cheguei no Brasil, uma das coisas que achei mais esquisita foi o fato de ter que preencher em cada formulário de cadastro de alguma coisa no país, qual era a minha raça? Não conseguia entender isso!

Não lembro de ter preenchido nunca nada assim na Venezuela e na realidade lá o racismo não está tão arraigado na idiossincrasia do nosso povo (mesmo que o Chávez fez questão de falar que lutava contra isso).

Outra coisa que para mim foi muito difícil de entender foi a diferencia entre chamar alguém de "negro" ou "preto" porque para a gente nunca a palavra negro teve um sentido pejorativo. 

Muito pelo contrário... A gente chama os amigos negros, morenos e até brancos de "negritos" com o maior carinho! 

Os negros na Venezuela são os reis das festas, eu falo que são os que tem mais "sabor", os que melhor dançam, são alegres!! A gente adora!

E uma das coisas que está mais arraigada na nossa cultura é a dança dos Tambores Venezolanos(*), que podem ver no vídeo abaixo . É uma música que faz qualquer venezuelano levantar da cadeira! 


Tem piadas nas redes sociais que falam que a forma de identificar um venezuelano é botar essas músicas e olhar quem começa a se mexer! kkkk

O sangue africano faz parte das nossas raízes e está nas nossas veias! E faz parte da nossa vida! A minha pele é bem branca mas tenho sangue negro, com um grande orgulho. 

Tenho um grande respeito pelas lutas do povo negro no mundo. É muito triste ver tanta intolerância! 


(*) Sobre os Tambores Venezuelanos: 

A Venezuela, da mesma forma que o Brasil, teve uma mistura de raças: índios, negros e brancos (espanhóis) que deram origem à nossa cultura.

Com uma forte influência africana, porém misturado com as raças indígena e branca, juntando as práticas religiosas e tradições, nasceu uma mistura de ritmos populares cheia de cantos e rituais: Os Tambores Venezuelanos.

As imagens e deuses africanos foram substituídos pelas imagens sacras, pela influência dos espanhóis, tais como São João, São Benito, São Pedro e Santo Antônio.

Abaixo uma amostra da comemoração dos Tambores de São João, pelos venezuelanos em Barcelona-Espanha.



Geralmente os tambores venezolanos acompanham as festividades religiosas como o Corpus Christi, a festa dos "Diablos Danzantes", "Cruz de Mayo", as festas dos santos citados acima, etc.

Cada região foi desenvolvendo suas próprias cadências e desenhando uma amplia gama de tambores pelo país.

Este ritmo forma parte de grande parte das comemorações venezuelanas e é comum em qualquer festa (formatura, casamento, aniversário, etc).

Mais uma curiosidade:

Você faz ideia de porque nesta dança as pessoas ficam com um pé atrás?

Da mesma forma que no Brasil, na Venezuela tivemos escravos negros. Na época da colônia os escravos estavam acorrentados com grilhões (correntes e grandes esferas metálicas com um peso considerável), para evitar que os escravos fugissem, ou inclusive, como forma de castigo. 

Mesmo assim, nos tempos livres, eles tocavam seus tambores, feitos de madeira e couro, e além disso dançavam, com os grilhões nos pés!

Devido ao peso e desconforto, deviam arrastar o pé e deixá-lo sempre atrás, movendo o resto do corpo ao som dos tambores.

Desta forma nasceu o tradicional passo do "tambor de la costa", que varia em melodia, instrumentos e técnica, em cada povoado costeiro.

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