Não queria deixar passar o Dia Mundial do Refugiado sem aproveitar de mostrar alguns números importantes sobre a nossa migração e principalmente ressaltar que a nossa diáspora o não é só uma migração forçada mas também uma população que está saindo com o maior empenho e vontade de trabalhar, querendo reconstruir um futuro e, adicionalmente, muitos somos profissionais qualificados.
Outro dado relevante apresentado pela pesquisa da FGV é que uma parcela significativa da população venezuelana não indígena que atravessa a fronteira apresenta, majoritariamente, bom nível de escolaridade (78% possuem nível médio completo e 32% têm superior completo ou pós-graduação).
Segundo um estudo da FGV, em 2017, 32% dos imigrantes tem ensino superior completo e 60% estava empregado em alguma atividade remunerada na Venezuela. Segundo dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare6), este número era de 209 em 2014, 829 em 2015 e 3.375 em 2016, ou seja, já se via um crescimento nas solicitações de refúgio ainda antes da entrada em vigor da nova lei de migração brasileira.
Segundo o ACNUR, entre 2014 e 2017 já tinham se somado mais de 22 mil solicitações de refúgio de venezuelanos no Brasil, o que sugere que este número teve um crescimento muito expressivo em 2017, ano de acirramento das condições sociais da Venezuela e de crescimento exponencial da inflação, além da entrada em vigor da nova lei de migração no Brasil.
Hoje esses números tem crescido significativamente, como pode-se ver no infográfico abaixo (1). A Plataforma de Coordenação para Refugiados e Migrantes Venezuelanos, com dados atualizados ao dia 05 de junho de 2020, reporta que existem aproximadamente 253 mil venezuelanos no Brasil.
Em janeiro de 2020, o Brasil se tornou o país que reconheceu mais refugiados na América Latina, adicionando mais 17 mil, para um total de 37 mil refugiados venezuelanos (4). Sempre serei grata ao Brasil por essa receptividade e bondade com o meu povo e por ter nos aberto suas portas para se converter no nosso lar. Deus abençoe sempre os Brasileiros!
Segundo dados do OBMigra, 60% desses indivíduos estavam, em 2017, empregados em alguma atividade remunerada e enviaram remessas para cônjuges e filhos na Venezuela. Ou seja, apesar de subvalorizada profissionalmente, é uma imigração que traz benefícios para o Brasil.
Em níveis gerais, os venezuelanos não indígenas que migram para Boa Vista possuem nível de escolaridade superior à média da população local, e o percentual dos venezuelanos inseridos no mercado formal de emprego, 28%, não é muito diferente do percentual de brasileiros, 29,3%, em 2015, segundo IBGE (2015).
Uma das maiores dificuldades que enfrentamos dentro do Brasil é a revalidação de diplomas, visto que as validações/legalizações que estes documentos precisam ter dentro da Venezuela são muito difíceis de obter. Quando eu saí da Venezuela, em 2015, estavam acontecendo uma grande quantidade de "sequestros" de diplomas. Algumas mafias roubavam os diplomas, sabendo que era um item muito valorizado e que a emissão de uma 2ª via era quase impossível, para pedir altos valores de dinheiro como "resgate".
Alguns brasileiros acham que a maioria dos venezuelanos tem vindo maioritariamente para o Brasil, por ser um país vizinho, mas não é o principal país receptor, como puderam ver no infográfico acima. O motivo principal é a barreira que a língua diferente (português) supõe.
Podem ver também que o principal país receptor tem sido a Colômbia, o outro vizinho. Muitos migrantes chegam lá a pé (também chegam desta forma até o Equador e Peru). A Colômbia tem enfrentado sérias dificuldades devido à grande quantidade de migrantes e o aumento exponencial ano trás ano (2)(3).
Em total, já somos mais de 5,5 milhões de venezuelanos os que estamos espalhados pelo mundo. Saímos de um país que historicamente foi receptor de imigrantes do mundo inteiro, lhes permitindo construir uma vida digna e próspera. Muitos deles agora tem retornado aos seus países de origem, sentindo a mesma dor que os venezuelanos de nascença sentimos.
Reflexão: Se é difícil deixar o seu país quando você faz por escolha (um projeto, uma pós, seguindo o amor...), imagina a dificuldade de ter que sair à força? quando você não enxerga outra solução...
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