No meu Instagram podem encontrar muitas fotos e vídeos das paisagens maravilhosas da Venezuela e aos poucos irei colocando por aqui também.
Mas não posso deixar de denunciar a situação crítica em que se encontra a Venezuela. E quero aclarar que não se trata de notícias sensacionalistas. O que eu posto por aqui, é realidade, é o que vive a minha família que ainda mora na Venezuela.
A cada dia ouço deles: "agora não posso ver isso porque estamos sem luz", "estou trabalhando de madrugada porque hoje ficamos a tarde toda sem luz", "estou aproveitando de fazer X coisa, porque ficamos várias horas sem luz".
A cada dia ouço deles: "agora não posso ver isso porque estamos sem luz", "estou trabalhando de madrugada porque hoje ficamos a tarde toda sem luz", "estou aproveitando de fazer X coisa, porque ficamos várias horas sem luz".
Nem falar das falhas no serviço de internet, água e o recente problema da gasolina (deixo o link por aqui do post que fiz sobre isso há alguns días)
Em referência aos apagões, uma reportagem do portal Voa Noticias (1) indica:
"No mundo, as medidas do confinamento pelo Coronavirus tem feito com que os cidadãos busquem entretenimento nas redes sociais e plataformas de televisão como Netflix, mas este não é o caso dos venezuelanos, que vêm interrompidas suas comunicações devido aos constantes cortes no serviço elétrico.
"Ficamos sem sinal e perdemos todo contato com os nossos familiares", relatou a Liliana Meleán à Voz de América enquanto fazia a fila para entrar num supermercado em Caracas. Em dezenas de regiões da Venezuela, quando tem um apagão, os telefones celulares ficam sem serviço de internet e de ligações.
"Isso gera ansiedade, preocupação. Estou como pode ver na minha cara: muito preocupada", reflexionava Meleán enquanto esperava seu turno para fazer as compras.
O estado Zulia, região petroleira, vem sendo nos últimos anos, o mais castigado pelas falhas no serviço elétrico, com cronogramas de racionamento de entre 3 e 8 horas diárias. Porém, os que residem na região, informam que os horários não são cumpridos e é muito maior o tempo que ficam sem luz.
"Estamos cansados. Queremos dormir. Queremos descansar. Além da quarentena, também estamos sem eletricidade, Isto não é justo!" gritava María López num povoado "zuliano" onde as temperaturas superam os 37 graus, pelo que o sistema de ventilação não é um luxo.
Segundo o Comité de afetados pelos apagões, entre março e abril deste ano, tem sido registradas mais de 19 mil falhas elétricas. Os usuários passam 12, 14 e até 24 horas sem luz. "Não podemos estar assim!. É inumano!" lamentou la presidenta de esta organização, Aixa López.
O mais recente apagão, durante a quarentena, foi reportado simultaneamente em 10 estados do país. O governo do Maduro, atribuiu o fato a um "ataque nas linhas de transmissão de energia", e esse tem sido seu argumento recorrente para justificar as interrupções eléctricas que afetam várias cidades ao mesmo tempo.
A realidade é que o regime do Nicolas Maduro (e do seu antecessor: Hugo Chávez) destruiu o Sistema Elétrico Nacional. A corrupção e a falta de investimento deixam hoje o país na obscuridade.
E como começou esta crise do sistema elétrico?
Uma análise publicada do jornal digital Dolar Today (2) lembra que o Chávez nacionalizou a industria elétrica no ano 2007. Nesse momento criou a Corporação Elétrica Nacional (Corpoelec), fusionando as companhias regionais encarregadas da geração e transmissão da energia no país.
Em 2010, a Venezuela viveu uma grave crise elétrica devido à uma grande seca que fez com que os níveis da barragem de Guri, no Estado Bolívar (fonte de 70% da eletricidade do país) chegasse em níveis críticos.
Diante destes episódios, o Chávez declarou uma "emergência elétrica", e começou temporariamente um plano de racionamento.
Porém, os episódios continuaram. Um apagão afetou quase o país inteiro em abril de 2011, devido à queda de 2 das linhas de maior capacidade. Aquele corte só durou 15 minutos em Caracas, mas se prolongou por horas nos Estados Aragua, Carabobo e Zulia.
Em abril de 2013, quando o Nicolás Maduro tinha um mês no poder, ocorreram mais cortes, e em setembro, mais um apagão deixou 70% da Venezuela sem luz por pelo menos quatro horas, afetando à capital e mais 14 estados.
A cada vez que acontecia uma falha, o Governo declarava que se tratava de "sabotagem" (3) enquanto especialistas denunciavam que estava faltando investimento, que a manutenção era pobre e (para variar) que existiam multimilionários casos de corrupção.
Dentre as múltiplas teorias de conspiração, o Governo chegou a jogar a culpa até numa "iguana", o que logicamente rendeu hilários memes, como podem ver abaixo.
Em alguns outros artigos deste Blog (link abaixo) falo sobre a corrupção generalizada dentro de todas as empresas e organismos do Estado.
Resumindo, para não ficar elencando aqui cronologicamente os diversos episódios de falta de energia elétrica, continuamos tendo falhas de energia, a cada vez mais frequentes, que podiam afetar o país por horas, e isto gerou continuamente planos de racionamento elétrico, e com isso também continuaram as teorias da conspiração, vinculando as falhas aos fenômenos meteorológicos, aos EUA, à direita colombiana, entre outros.
Morando na Venezuela, eu vivenciei todos estes episódios, nos obrigando a mudar a nossa rotina. Tinha um apagão e a gente acabava inventando algum passeio para o shopping porque dentro das casas (num país caribenho, com altas temperaturas) o calor era insuportável sem ar condicionado. Os shoppings e estabelecimentos comerciais, hotéis, etc começaram a investir em plantas elétricas para continuar operando. Obviamente tem perdas piores, até de vidas humanas, mas por citar um exemplo, mais de uma vez, a gente estava assistindo um filme no cinema e teve apagão e tivemos que ir embora.
Casos emblemáticos:
- Em 2018, seis recém nascidos, que recebiam respiração assistida morreram devido a um corte do serviço elétrico no hospital onde eram atendidos. Estes casos continuaram se repetindo no país nos últimos anos (4).
- Tem ocorrido apagões durante pronunciamentos do Nicolás Maduro em rede nacional, como podem ver no vídeo abaixo, e também durante discussões no Parlamento (5)
- Em 2019, a Venezuela viveu o pior apagão da história, deixando praticamente o país inteiro sem serviço elétrico por mais de 100 horas (6). Obviamente nesse momento, as teorias da conspiração continuaram, o Maduro declarou que se tratava de uma "guerra elétrica" (para cada setor da crise, a guerra tem um nome), e sinalizou aos EUA, e ao Senador Marco Rubio, quem tem sido um grande crítico do Governo chavista, como responsável.
- Também em 2019, a Rede Nacional de Médicos, autores da Enquete Nacional de Hospitais, tinha contabilizado um total de 79 falecidos nos hospitais, devido às falhas de energia elétrica, no período entre o 10 de novembro e 19 de fevereiro de 2019 (6)
Dados sobre as perdas na capacidade do sistema elétrico
O Ex Vice-Ministro de Eletricidade e Professor de Política Energética da Universidade Simon Bolívar, Rafael Armando Meleán, indicou cifras nas que adverte que o Sistema Elétrico Nacional da Venezuela (SEN) apenas operava com 40% da capacidade de geração, devido à falta de manutenção e as plantas que não conseguiam operar (7). Ele ainda informa que "Não existe a capacidade disponível para atender o pico mais alto da demanda, e é devido a isto que sempre existirá racionamento elétrico em algum setor do país".
"A capacidade instalada do SEN é de 34.383 megawatts, porém, a capacidade operativa não chega a 14.000 megawatts, cifra que chega no limite da demanda", comenta Meleán. "Se bem a capacidade termoelétrica instalada é de 17.985 MW, na realidade só aporta 3.229, enquanto no caso da hidroelétrica, tem uma capacidade de 16.228 MW e aporta 11.704, pelo que qualquer incidente em algum equipo é capaz de desequilibrar o sistema".
Finalmente, trago a reflexão...
Se o fato de ficar em casa está nos deixando loucos, imaginem o que é ter que ficar em casa e ainda ter que ficar sem serviço elétrico, passando calor, sofrendo com os pernilongos, etc...
O meu sogro nos contou nestes dias que quando ficam sem luz, os vizinhos acabam se juntando para jogar dominó na área comum do condomínio (tentando tomar algumas medidas para evitar contaminação, como desinfeção das superfícies, etc).
A Venezuela precisa de ajuda!. O Regime chavista acabou com a estrutura do país, inclusive com a principal industria: a petroleira, deixando os venezuelanos numa terrível situação que piora a cada dia.
Fontes:
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